Lentos dias e nada de chegar. Ele não volta. É a punição! Sucumbe e já não há tempo, as ânsias coloridas ainda não se acinzentam: tonalizam o encontro. Procura - sem respostas. É o resultado vexante do clandestino. Pesa, aliás, o tom de possuir, produz-se uma angústia difícil de definir. Amor e dor, amor e sofrimento. O mundo da punição e do sofrimento não foi inventado por DANTE². É o inferno com nove círculos e o purgatório com sete degraus (e em um parêntese o Paraíso).
Mortes continuas se assemelham dentro do fundo. Então, o lícito é afastar-se mesmo que para logo, em seguida, se aproximar. Solicita saída: porta lacrada. Recomeça, redimensiona e tudo é ausência de matiz. Passa, passo, paciência. As horas de ontem já foram anuladas. Angústia: o que agora nele é exposto é o que nela se esconde.
Sua substância insossa, insípida, infantil e inocente lhe era dada mesmo quando a demanda fora sair, correr, esconder. Estava em suas mãos, já frias, porém brandas, ao costume da dor. Não havia como jogá-la ao longe, merecia cuidado, zelo, mesmo no pecado. Mas o ficar, o haver, já tinha traçado a linha, já havia dado as justificativas para o contato com a expiação, como um carimbo com letras garrafais sinalizando o PROIBIDO.
Ficou-se então com o momento presente, período que não há promessa, tempo que é, e que está sendo.
¹ Referência ao livro “As Flores do Mal” (Les fleurs du mal) do poeta francês Charles Baudelaire.
² Alusão à "A Divina Comédia" que foi iniciada em 1308, mas só concluída ao final da vida de Dante Alighieri.
Maria Karina