quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Perfume



Flor minha.
Antítese de outrora.
Porto de agora.
Deixe-se acreditar:
hoje é dia de festa, de ousar na veste branca.

Conecte-se comigo.
Daquele jeito: distante e presente.
Sem malcriações, menina, sem mais crueldade.

Nosso amor - nascido do Caos,
da incerteza,
da desconfiança,
agora é o sentimento mais forte que existe.
É o bem querer, o querer melhorar.
Compreendo, comprometida e cumplice:
Avante, baby.

Saudades do futuro!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Contravenção, contradição: o telefone tocou novamente!

“Que uso o viés para amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida”

Ana C.

Melhor que não me atenda mesmo.
Que não leia o que eu escrevo também.
Melhor.

Mas é que, de repente, me veio esse mal-estar.
E a vontade de estar com você.
Mas melhor que esqueçamos o medo.
Esqueçamos tudo.
O primeiro beijo do ano, as noites quentes de verão, as gargalhadas, os nossos corpos se encontrando, a intimidade...
Ah, deixa pra lá!
As ameaças, inclusive.
Isso tudo é sensibilidade exarcebada.
Mas me desculpe pelas palavras lançadas: não há mais volta.
Culpa e medo, todo mundo tem!
Cumplicidade, ninguém mais.

Não te ligo mais, prometo.
E não sofra.
Não por isso.
Já basta, por aqui.

Não me ligue...
Não me atenda...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Outra estação


A aura e a magia de alguém.
Seja:
meu oriente,
meu ocidente,
todas as direções,
a flor da minha manhã,
amanhã.

Apareça.
Assim, com os cabelos molhados, de camiseta branca, sorriso largo.
Para eu poder te enxergar, iluminante, e imergir.
Veranear contigo, alucinada.
- Uma pena que essa nova estação não pára de ameaçar o florecer do meu amor.

Congela tudo!
E vem viver a nossa eterna primavera?

Todas as cores,
todas as sensações:
versos livres de nós e nós.

Foto: Larianne Rocha

domingo, 20 de dezembro de 2009

Fluxo, refluxo...


Com outro corpo
- que não é o teu.
Sentido a dor
- da tua ausência.
Ouvindo a música
- que ainda é a nossa.
O amor que em mim permanece
- do qual sempre será a dona.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pintou o não querer


Por onde anda a cor do desejo?
Por hora, sumiu!
Findou, passeou ou fugiu?

Horas a fio em ônibus para se encontrar,
Resposta difícil de dar.
Volta, mesmo lento, já...

Já foi.
Cessou de cansaço.
Empalideceu.
Pintado, partiu.

Maria Karina

sábado, 12 de dezembro de 2009

Que Pena!



Que queria se casar comigo:
disse, sem cerimônia.
eu sorri.

Que a amava:
eu disse, sem cerimônia.
Ela sorriu.

Entre gargalhadas, declarações declaradas, beijos quentes.
Prometi paixão sem medo.
Ela, proteção.

E tudo que restou:
Uma pedra gigante lançada na intensidade;
Várias perdas.
Quase nada.

Sem praia,
sem atenção,
sem mais sorrisos,
ela se foi, sem cerimônia.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Surto anunciado



Um porre de Campari.
Um insight às avessas.
Ficou só.
Inteiramente.
Perdeu o chão.
Vulcanizou um sentimento adormecido:
Lava da sua paixão.

Por dias, andou desnorteada.
No deserto.
Esqueceu das tarefas, dos amigos.
Encasulou-se.
Surtou completamente.

Mas retornou,
gradativa e intensa,
para o amor de sua vida.
“De traços nórdicos” – dizia.
Coragem e risco.
Na verdade, nesses meses de separação, jamais tivera partido.

O coração disparado, as mãos trêmulas e os braços abertos.
Acolhida.
Por Ela, a sua.

sábado, 14 de novembro de 2009

Apagão induzido - Back to black



Uma arte: ignorar.
Porque é assim, mas sem qualquer sintoma de desprezo.
As energias que convergem.
Difíceis de admitir – digo, nesse contexto.

Olhar e sentir a cidade grande, com o gosto e o peso da cerveja tomada.
Cena 1, tomada 1: o cheiro, sweet, sweet, sweet.
Cena 1, tomada 2: a leveza, "Leve, como leve pluma. Muito leve, leve pousa."
Cena 2 / Granfinalle: Ah, não se esqueça de me esquecer. Ou me esqueça de verdade, vamos combinar?

Empalho todo o sentimento.
Porque gosto de me enganar:
O que foi mesmo que aconteceu, hein?
Blackout, baby!
Desnuda, no escuro.

domingo, 8 de novembro de 2009

Ferrugem


De súbito o envolvimento ganha contornos diferentes. É preciso deitar com outro corpo para que ela perceba que a relação almejada é impossível. Acostumada a gritar que se basta e que os acontecimentos mundanos-cotidianos não a afetam, agora se sente fuzilada, um fuzilamento íntimo, que não cabe na sua idade. É um misto de ciúme; com razão de não mais ter. Um protesto solitário, onde não encontra hora, nem lugar.

Forjar todo um conteúdo, toda a maneira de existir, em prol de uma vida dupla. Há cumplicidade nos dois mundos, para ambos soletra amor [puro ¬ repleto de verdade ¬ um singular e um plural]. Questiona-se se o impossível é real. Dormindo, e de olhos arregalados o peito espalma diante de todo o sentimento. Quero-os para mim. O mundo expõe que não. Nada se adéqua, tudo quer sentido. Para quê o sentido se o amor esquenta todo o universo frio?

Não à interrogação!

Cego de luz, ele pode se dar e ser amado por corpos vários. Mas, congratular com tantos desejos é para ela alcançar a plenitude. Isso ela não pode. É incapaz: nós a impossibilitam. É a corda. Pede-se: acorda. Pálpebras se abrem. Ela, com quebranto, percebe que o tempo que se estendia para eles, não lá está. Foi-se. E com ele a alegria. Mas, para se caber dentro de si, é necessário ficar cheia de vazio, com falência de setor.

Educada para não ter porto quando de vez em sempre desejava ancorar, agora se ver de pé em um navio que deseja plataforma. Mesmo as horas e os minutos iguais não bastam para uma reaproximação. Não há forma. Não existe saída. Pesa não saber de seus beijos, pois já tinha se acostumado a respeitar e a desconfiar do seu silêncio. Já vivia na labuta que era a imersão de conhecê-lo.

Quem dera o tempo em que o coração só disparava de amor-temor. Agora a desilusão, o já da partida, a pressa de não mais sentir.

De volta à interrogação!

Como encará-lo sem que diariamente rogue a Deus que o coração não dispare?

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Tornar a frieza um aspecto exterior da sua sensibilidade.

Maria Karina

domingo, 18 de outubro de 2009

Crua


Cruel?
Revoltada?
Triste?
Nem...
Só hiberno.

Só.

Demorei.
Porque é primavera.
E eu desejava muitas flores e alegria.
Mas não tem sido assim.
Porque meus amores não são meus.
Porque o tempo é o meu senhor.

Viro para o lado, finjo que não é comigo e procuro não sentir para não sentir.
E cada segundo entra me minha pele como um espinho.
Ouriço!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nascerão flores no canto do meu quarto...

Bendita a Primavera que começa!

A chuva que encerra o inverno, tantas gotas e tanta devoção ao sofrimento - passado!

Boas vindas à vida que brota, ao que é renovado, reciclado.

À alegria que toma conta do meu coração, ecoando a minha sede de felicidade!

Bendito o perfume das flores das meninas.

Lembranças da tia da escola que me pintava de flor nos idos de 88.

Os olhares e o sorriso da paixão leve.

Leve-me, Primavera!

Plena.

domingo, 20 de setembro de 2009

Sou aquilo que em mim não é


O sol começa a ficar tão forte no ser-tão que por vezes penso que a alegria não vai durar. É primavera, e o amarelo dos girassóis que deveriam ser vibrantes tem receio, priva-se de angústia. Hoje, o grande vazio que há em mim será o meu eterno lugar de existir. Gostava de adivinhar o prazer, mas tudo que parte de mim gera incomodo em quem nem conheço, em que nunca troquei palavras, em quem nunca cintilou. Querem me violentar para que eu desesperadamente me torne vazia e necessitada. Mas, a exigência da vida faz com que o condenável seja lícito, que o artificial se compreenda no sacrifício de ter o essencial.

Não chove mais por aqui. Tudo esbarra em ternura e tristeza. É tempo de partir, de lavar as mãos na água que nunca é a mesma. Há uma necessidade plena de adeus. Largar os olhos que de tão meus correm risco de não mais enxergarem. Hesito. Ir para nunca mais. Fico ocupada. Vagueio. Desejo de uma intertroca tão fluida e constante como a de existir. Passei do tempo em que me prometia viver, deixei há muito de ser uma promessa, não há mais tempo de continuar pedindo, tenho a coragem de já ter [ou não ter]. Esperança é sinônimo de adiamento. E não há tempo. O tempo só é pleno quando é presente.

Levaram-me para viver o agora. Era distante de onde as buzinas tocam. Era perto do asfalto onde nada nasce. Mas adentrando, chegando perto da casinha de porteira, tinha milho, feijão, açude e pássaros. E eles cantavam uma sinfonia de quietude. Ali as horas não tinham dono. Eram minhas, eram suas, eram de quem lá quisesse estar. Naquele período eu queria. E talvez ainda o quisesse no agora. Mas alardearam, dividiram o infinito numa série de finitos, inventaram um nome, um nome sem palavra.

Causaram o desencontro, embora, ainda, nos encontremos na semelhança. Mas por semelhança nos repelimos, não entramos um no outro. Sinto falta do que deveria ser eu. Anoitece, amanhece, e só o descaminho segue me guiando.

Maria Karina

Foto: Karina Zambrana

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Para ela, que está chegando...

Felizes somos:
que a primavera não seja só mais outra.
Mas uma PRÓXIMA E ETERNA!
Até o dia 22 de setembro!

Vincent Van Gogh - Giardino Fiorito

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

“Os meus hábitos são da solidão, que não dos homens”

Sucessivas perdas atacam e o grito já não tem sentido impermeável. Pasmo, e ininterruptos soluços se aglutinam. Falta paz. Sobra pão. Recorrentes castigos sobem a ladeira para maltratar um coração que já nem sabe se sente. Fixa a lembrança, descortina o paladar e tudo padece do mal secreto. A flor do mal ¹ pernoita no jardim ressecado, carcomido; esperando em silêncio a hora e o minuto preciso para atacar.

Lentos dias e nada de chegar. Ele não volta. É a punição! Sucumbe e já não há tempo, as ânsias coloridas ainda não se acinzentam: tonalizam o encontro. Procura - sem respostas. É o resultado vexante do clandestino. Pesa, aliás, o tom de possuir, produz-se uma angústia difícil de definir. Amor e dor, amor e sofrimento. O mundo da punição e do sofrimento não foi inventado por DANTE². É o inferno com nove círculos e o purgatório com sete degraus (e em um parêntese o Paraíso).

Mortes continuas se assemelham dentro do fundo. Então, o lícito é afastar-se mesmo que para logo, em seguida, se aproximar. Solicita saída: porta lacrada. Recomeça, redimensiona e tudo é ausência de matiz. Passa, passo, paciência. As horas de ontem já foram anuladas. Angústia: o que agora nele é exposto é o que nela se esconde.

Sua substância insossa, insípida, infantil e inocente lhe era dada mesmo quando a demanda fora sair, correr, esconder. Estava em suas mãos, já frias, porém brandas, ao costume da dor. Não havia como jogá-la ao longe, merecia cuidado, zelo, mesmo no pecado. Mas o ficar, o haver, já tinha traçado a linha, já havia dado as justificativas para o contato com a expiação, como um carimbo com letras garrafais sinalizando o PROIBIDO.

Ficou-se então com o momento presente, período que não há promessa, tempo que é, e que está sendo.

¹ Referência ao livro “As Flores do Mal” (Les fleurs du mal) do poeta francês Charles Baudelaire.

² Alusão à "A Divina Comédia" que foi iniciada em 1308, mas só concluída ao final da vida de Dante Alighieri.

Maria Karina

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

“O perigo muda mesmo de endereço”


“Havia balões no ar”. Chovia e eram dias de festa, embora a dor da ausência estivesse parada ali. Pensava em sorrir, o peito sufocava... A falta acompanhava. Bebeu e se pintou de ninguém. Fantasiada, saiu. Estampa florida enfeitava o figurino de seu carnaval. Foi toda dança. E num compasso marcado: espalmou. O inefável foi pronunciado. Misto de agonias e aleluias. Sofria pela falta do que já foi e alegrava-se com o que poderia vir. Esperava.

E eram folguedos, bombas, rojões. Forró que de braços e abraços se comprimia. O cheiro a incitava, perspectiva para mais. Não podia, recuava. Traçado de bocas jogadas na madrugada. Ele as possuía, as levava para seu quarto sem portas, sem janelas, sem alarde. Por vezes anulava as horas de ontem, mas as escolhidas mantinham intacto o gosto do verde sal.

Colhia as flores, mas repentinamente o cheiro característico de algumas delas se desagregava. Portanto, um enjôo súbito o percorria. Cansaço do nada. Precariedade sem palavras. Voltava a si e de pronto recomeçava: reclamando-se, afastando-se. Queria - já não era negável – ela supunha. Sabiam os dois.

Vegetavam no olhar, escapavam nas premissas, parecia impossível. Por vezes chegavam-se ao desconforto, se despediam. Para passar os dias distantes, ela desconfiava do silêncio e ia remontando paisagens. E ele se aguava de mar, um cheiro de maresia lhe invadia. Levou subitamente o cheiro para ela. Ela o recebeu na estação. Um novo olhar, variada forma e um indefinível beijo a persuadiram num lento acúmulo de séculos. Rios levados ao mar.

Ele tinha fome de ser outro. Ela de mais uma ser. Distraídos, ficaram submersos. Já não podiam mais. Emudecidos, vestiram em silêncio.
Maria Karina

terça-feira, 28 de julho de 2009

É TUDO VERDADE


Ainda me iludo.
Finjo que te esqueci.
Rumino a nossa história:
doses homeopáticas de paixão e desespero.
“Tudo que poderia ter sido e não foi”
“Tudo que foi mesmo sem querer”
Acordo. Penso que o sonho não acabou.
Ou será que o fim não passa de um pesadelo?

Minto.
Sem querer, rebobino.
Nosso filme em branco e preto:
edito.
Fica o dito pelo não dito.

Multiplico o meu lirismo.
E não agüento mais.
Uma hora, te amo loucamente, outra, te odeio demais.
Ademais, não sei de mais nada.
Esse filme já perdeu a graça faz tempo...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Cada bobo tem o amor que merece

"É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."
Clarice Lispector

Supero.
Suspiro.
Reescrevo novas cartas.
Recrio.
Remonto.
Estou pronta!
Que me venha o sofrimento inevitável de uma mentira lapidada.

Samba do Grande Amor
Chico Buarque

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Contemplação

Amo-te!

Crio respostas,

desejos,

amores,

dores,

significados.

Contemplo!

É estranho.

Porque parece um tipo de compromisso.

Que não sei se existe.

Mas o que é dito não é banalizado.

E te roubo mais essas palavras belas.

Perdoa, perdoa...

Te amo:

Na minha vida real!

O amor e o tempo II




Eis mais um ano se passando com a mais pura divisão da cumplicidade, amizade, simplicidade, carinho, respeito, sinceridade, e o mais forte de todos os sentimentos, o amor. Amor de carnaval, de dia, de noite, de sol a pino, amor a qualquer hora, amor de todo jeito. Dessa maneira o “tempo” parece passar de uma forma rápida, como se não existisse intervalo entre um acontecimento e outro. É como se tivéssemos nos conhecido ontem, ao mesmo “tempo” em que parece que já nos conhecemos a muito mais.

Relações que se mostram voltadas diretamente para os nossos quatro anos de encantos e descobertas. Aprendo ainda hoje toda a dificuldade de se relacionar e todas as barreiras que o “tempo” insiste em colocar em nossos caminhos. Trazendo muitas vezes insegurança e tentando misturar nossos sentimentos, como se fosse uma prova de fogo onde quem está na frente da arma é você.

Esse tal “senhor das horas” tem poderes que não somos capazes de dominar. Ao “tempo” em que nos embaralha, em sua maioria, desembaralha também, tudo dentro de um certo “tempo”, que temos por obrigação de esperar, e esperar mais e mais, até que o “tempo” resolva por nós o que não temos condições de resolver em tão pouco “tempo”.

Falar do “tempo”, de amor e de você, me levaria sem dúvidas muito “tempo”. Colocar em palavras todos os nossos momentos juntos: as muitas alegrias, algumas tristezas, as lágrimas muitas vezes inevitáveis, as brincadeiras, as viagens, as trapalhadas (risos), toda essa mistura de sensações que petrificou nosso amor, e que nos faz permanecer com o desejo de sempre dar mais um passo a frente.

Agora é só pedir ao “tempo” que nos conceda muito “tempo”, para que possamos continuar a usar e abusar dele, até que enfim, nosso “tempo” verdadeiramente acabe, e surja então a santa eternidade. Eternidade? Sim. Mas isso já é uma outra história, por hora vou ficar somente com o muito “tempo” que ainda quero ficar com você, sem deixar que o desgaste e o próprio “tempo” ofusquem mais uma linda história de amor.



Jarbas Nogueira

Fotográfo, cantor e um exímio jogador de volley-ball

Euclides da Cunha/BA

domingo, 28 de junho de 2009

Bandolins


Bandolins
(Oswaldo Montenegro)
Como fosse um par que
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse
Ao som dos Bandolins...
E como não?
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim...
Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim
Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins...
Como fosse um lar
Seu corpo a valsa triste
Iluminava e a noite
Caminhava assim
E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam a fada
Do meu botequim...
Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim
Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos Bandolins...

e quando...


Vânia Medeiros

domingo, 7 de junho de 2009

O velho e a flor na praia de Boa Viagem

Qual seria a outra primavera?
Existiria?
Qual estação a definiria?
Teria flores?

Não quero outra primavera, quero a de agora.
Seguro a flor, com espinho e tudo,
e mesmo que sangre, mesmo que a ponta entre em minha carne,
continuarei apertando.
Não quero mais sentir calor no inverno ou frio no verão.
Ser hipnotizado ou deixado de escanteio:
não mais.

Entre fábulas, liras, poesia e amores,
vou olhar, não com os olhos.
Terei o poder de sentir a sua essência na escuridão.

O que se passa nessa estação, flor, ainda não tem explicação.
Não é nada pegajoso, nem é amor banalizado.
É musica e sensibilidade:
“Meu amor, eu não esqueço,
Não se esqueça por favor
Que eu voltarei depressa
Tão logo a noite acabe
Tão logo esse tempo passe
Para beijar você” (Para um amor no Recife – Paulinho da Viola)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Inventando para não observar-se



Era da Baía. Cursinhos para direito e bolsas que guardavam celulares de última geração. Era assim: madeira, luxo e chá. Não era vulgar, nem tampouco obstinada: temia de medo. Preferia as coisas simples e dramáticas, talvez pelo medo constante de errar e de parecer anêmica. Tudo caminhava num passo só, mas o mundo que lhe era conveniente quis pela primeira-frágil vez gritar. Não amava, mas carregava, sempre, o rapaz de olhos puxados ao seu lado, diziam que era para que ela não enxergasse os acasos do mundo. Mas, pouco adiantou. O astro desta vez urrou. Agora sim, ela se voltou para ouvir. Mas, para ela, o brado era tão ensurdecedor que ela deu de ombros. Seguira. E que ironia, o rapaz que sempre dizia sim, e que ao anoitecer colhia as estrelas, fugiu.

Lágrima, lamento e fome. Sem nada entender, resolveu como de costume se esconder. E a partir daí voltou à cidade de sua mãe, que mais parecia madrasta. Debruçou-se e prometeu ao mundo ser aguda e eloquente. O novo neste momento lhe apetecia. Mas, às escondidas chorava o amargo do inventado amor. Afinal, ela não o amava. Dissimulava-o para si. Às pressas inventou um púbere amor. E foi todo valsa. De noite, paredes com cal e rodas de viola, afinal, ele era um exímio tocador. Ela julgava amar mais que outrora, já que o violeiro fazia suas desafinadas cordas anatômicas tremerem. E agora era toda: sexo, atitude e excitação. É isso mesmo, ela de cá sentia suas costas largas em rebuliço.

Alegrias diurnas? Esqueça. O rapaz não se parecia com o anterior. Já nascera economizando gestos e com muita intimidade com o silêncio. Amava, era fato. Mas era só. O sentimento que brotava em peito puro e com gestos simples não o diminuía. Ao contrário, lhe impulsionava para mais. E assim, voltava o receio dela. Medo de perder, de ser comprada, de ser confundida. Corria de medo. Parava, queria voltar, mas não era confortável. Ele não lhe trazia o impossível. Tudo nele era real. Os desejos eram satisfeitos. A vida, mesmo intolerável, era sorvida em gramas, com ou sem pudor, com ou sem etiqueta. Ele estava pronto. Ela ainda não.

Em dois dias ela resolveu tudo, como numa equação matemática. Abraçou novo corpo. Selaram as mãos e ponto. Um novo casal se formou. Ele, duro como baraúna (madeira dura que nem ferro), esboçou uma reação: chorou. Pouco adiantou, ela já estava preterida. O fácil já estava lá, não havia motivos para padecer. O inesperado não lhe é de bom grado, tanto que não namora a idéia de correr o sagrado risco do acaso, gosta das coisas milimetricamente traçadas. E o novo dança neste compasso. Parece que vai ser sempre assim. Esquentando no calor e tremendo no frio. Quem dera um dia pudesse dar uma forma ao que não existe, ter a coragem de usar seu coração desamparado, ou mesmo, sair nua na chuva, sem temores e sem medo de se arranhar. Pois só assim conseguiria, tecer sonhos e pintar de preto-e-branco o dia já inventado.


Maria Karina

domingo, 24 de maio de 2009

Ah! Bruta flor do querer

Se eu sei o que quero?
Se eu sei o que quero com você?
Se sei?
Não exatamente...
Sei que quero ser como todos os mortais: os estudantes de cursinho, os cobradores de ônibus, jornalistas ou funcionários públicos.
Ao sair do trabalho, quero te ligar ainda descendo as escadas, ofegante, respirando paixão e saudade.
No caminho de casa, ouvir qualquer música e ter certeza que é a nossa música.
Quero que ilumine os meus sábados e domingos com a sua presença e programação.
Na pior das hipóteses, ir à missa. Você já me disse que acha que me faria bem.
Quero dormir abraçada contigo e acordar mais abraçada ainda.
Sentir meu braço adormecido por ser sua almofada, me incomodar, mas não abrir mão de sentir o seu cheiro assim tão perto.
Numa mesa de bar com vários amigos, conversando besteiras e rindo, quero saber que do outro lado da cidade tem alguém, que independente de onde eu esteja, vai estar lá. E que sempre que eu pensar, vou sentir um friozinho por dentro, sabendo que mesmo distante estarei na sua presença.
Na padaria, no carro ou no meio da rua, quero ter uma vontade violenta de te beijar. E te beijar, assim que possível for.
Acho que sei o que quero.
Você.

sábado, 23 de maio de 2009

Cia. Teatral Farinha Seca encena Mar Lírico de Nelson Rodrigues


Depois de ter seis indicações para o Prêmio Lázaro Ramos, no V Festival Intermunicipal de Teatro Amador (FITA), das quais levou três troféus, que a Cia. Teatral Farinha Seca iniciou, em 2008, o processo de montagem para o espetáculo Senhora dos Afogados, peça mítica de 1947 do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Para a montagem, a Companhia optou pelo 3º e último ato – a tragédia é dividida em três -, e lançou mão dos espaços convencionais para experimentar nova linguagem naquele que, talvez, tenha sido o melhor espetáculo do grupo.
Há um mês em cartaz no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Euclides da Cunha, Senhora dos Afogados surpreende pela inovação fotográfica e lírica. A tragédia, cujo enredo se passa nas proximidades do mar, traz a família Drummond e as sucessivas tragédias que acometem seus membros para o centro da cena. A fidelidade conjugal de 300 anos é abalada em meio às circunstâncias do desejo transgressor nascido entre os membros daquela família tradicional, oriunda de um passado obscuro.

Neste espetáculo, as impressões pessoais de cada espectador se tornam mais agudas em consequência da quebra da quarta parede (assim chamado a divisão entre ator e plateia como se as cenas estivessem se passando no interior de uma sala, de um quarto) e ele, o espectador, é convidado a fazer parte do grupo de curiosos vizinhos que rondam a malograda vida dos Drummond.

O mar – vivo e manipulador -, pois ele é também personagem, alcança seu lirismo quando é posto em cena pelo corpo dos seis atores que formam o elenco. E não basta dizer sobre a força poética da luz, nuançada entre o claro/escuro, vermelho/azul, e da construção da música, produzida pelo canto remoto feminino e, ainda, o som gutural dos ventos que sopram sobre o Café do Cais, onde o 3º ato é ambientado, feito pelos próprios atores.

Para o espectador Inamar Coelho, Senhora dos Afogados deixa a platéia anestesiada. “A farinha seca é composta por alquimistas, já que transformam dificuldade em arte. Aliás, eles respiram arte. Tem que ver. Os gestos, as expressões, as falas, as vozes, a luz, o som, tudo em simetria com a estética que caracteriza a arte. Falar do texto de Nelson Rodrigues só é necessário, neste caso, para mostrar a ruptura operada pela Farinha Seca no sentido de deixar de lado o erotismo e/ou a pornografia, e até mesmo o dramalhão, que vários outros preferiram fazer emergir do texto, para exibir, em um ato, toda a arte possível, nele inerente. Falar dos atores, do mesmo modo, só é possível para elogiar sabendo que as palavras, quase sempre, não serão suficientes. A Farinha seca é um tapa na cara da sociedade: sem teatro, sem apoio, sem verba, sem incentivo, sem platéia, sem... fazem arte da melhor qualidade. Senhora dos Afogados é uma experiência ímpar”, disse emocionado.

A peça é atemporal e moderna, e atravessa a estética rodriguiana com sutileza e radicalidade.

Maria Karina

terça-feira, 5 de maio de 2009

O amor e o tempo


Era 08 de agosto de 1996 quando Emanuel Teles de Matos beijou-me pela última vez. Lembro como se fosse hoje. Estávamos na sala de jantar da nossa vila de sentimento e as janelas enquadravam as densas emoções do domingo no parque. Era noite e recordo que soprava um vento chuvoso que mexiam as folhas. Neste dia então, Emanuel que arranjava propositadamente mal as palavras, foi-se. E me deixando sem compreender o que acabara de dizer, despediu-se.

Logo de manhã, com a cabeça ainda voltada para a parede, eu já sabia como estava o tempo. Aliás, foi, sobretudo, do meu quarto que percebia a vida exterior durante essa época. Longos dias e incansáveis noites se passavam sem que alguém notasse o meu estado de espírito. Agonia que matava os meus outros “eus”, sem que ao menos eu fosse consultada. Essa contenção de espírito, essa discussão interior, dava a dimensão desse amor solitário.

Passado alguns meses, cruzando as mesmas ruas, enfim nos encontramos. Fisicamente ele mudara. Seus longos olhos castanhos não tinham guardados a mesma forma, continuava sim da mesma cor, mas pareciam ter passado ao estado líquido, a tal ponto que quando os fechava era como cortinas que nos impede de ver o mar. Não houve somente mudanças de tempo lá fora, ou no corpo modificações de odores, mas sim uma diferença de comportamento. Despedimo-nos sem trocar palavras, fazendo-me assumir o encargo por demais pesado, forçando-me a viver ausente de mim mesma por causa de sua presença contínua, e assim privando-me para sempre das alegrias quotidianas.

Depois, na vida, Emanuel vira que a fórmula apática em que estavam os seus sentimentos, não possuía a mesma força que imaginara. Verificou-se após quatro longos anos, que por mim guardava a mesma doçura, pureza e paixão de outrora. Mas, como sempre foi de sua arte conhecer-se tão pouco a si mesmo, não pude interpretar se havia intervalo verdadeiro entre o que se passou e o momento em que voltava aquele vicioso desejo de me encarar. De maneira, que essas sensações tão minhas conhecidas, com qualidades e defeitos tão nitidamente gravados, entravam em contradição.

Mas, podia eu reencontrar aquela fresca e misteriosa face sem que o meu coração disparasse? Ah... Não mais recordar os solitários dias estendidos a fio em minha cama. Entretanto, os consigo lembrar. E isso, dá-me a impressão de uma repentina mudança, como se estivesse olhando fixamente para um lugar e num piscar de olhos uma flor tivesse sido colocada ali.

Fechando os olhos, perdendo a consciência, ele tinha o meu olhar, as minhas mãos, tinha a mim e o sentimento, o que não se dava quando eu estava acordada. Com efeito, eu não podia mais me permitir esse amor, embora a minha vida estivesse submetida a dele. Eu que conhecia vários Emanuéis num só, parecia-me agora ver muitos outros ali me esperando.

E assim prosseguir, como era e como sempre fui desde que tomaram a resolução de eu ser sozinha, tão antiga, mas que parecia datar de ontem, porque eu considerava cada dia, um depois do outro, como não chegado. Eu já não era a mesma sob um céu sem nuvens, a música já não embalava os meus sonhos. Fechada as entradas do meu coração, ficar de olhos fechados, desde então, era coisa permitida, praticada, oportuna, assim como guardar sorvetes congelados por causa do calor.
Maria Karina

Efeito Colateral

chaga-mor
ciúmes
perdição
o pensamento único e constante
loucura
te ter sem te ter
insanidade
tudo que te recusa não presta
sintoma
tomo todas
escuridão
a ausência
incêndio
meu corpo
meu gasto
degusto
gosto
gozo
grogue
de você
(...)

terça-feira, 28 de abril de 2009

A COR E A SOMA DOS DIAS


Amizade que se originou em segundos. Tempo: breve espaço que resolve tudo. Distâncias desatadas como a um laço. Através de um fio a comunicação em pedaços. Enquanto isso, o sentimento advindo da ternura estreita caminhos. Mundos se juntam para tornar o amor possível. E tudo assim, num átimo sem palavras.

Pintar em cores oportunas foi o exercício diário daquela menina de cabelos nas costas e de olhos castanhos. Às vezes parecia perdida entre o tempo que passou e o que surgia. Mas, era visível o seu contentamento com o seu novo amigo. Ele sempre prestativo e atencioso a levava para dançar, e para ela era como se tudo acontecesse pela primeira vez. Depois, os pés exaustos e em bolhas, eram lavados e derradeiramente enxugados por ele como a um bebê. Suas sandálias eram emprestadas a ela e serviam para aplacar a dor do salto. E era assim que os dois desciam até a casa dela: com um número que daria para calçar um pé e meio.

De quando em quando as pessoas da cidadezinha comentavam sobre a maneira em que aquele sentimento se desdobrava. Cogitavam um namoro às escondidas, uma amizade com demasiado interesse, e outras coisas advindas de pessoas que residem no interior. Não é que esses indivíduos que moram em lugares pequenos sejam dados à intriga, mas talvez pelo ócio, eles fiquem suscetíveis aos fatos que acontecem ao lado.

Naturalmente essas maledicências não afetavam o ir e vir dos dois. Brincadeiras eram diariamente realizadas, a tal ponto que talvez isso não tenha passado de subterfúgio utilizado, inconscientemente, para prolongar as horas que atravessavam juntos. Gastavam horas a fio entretidos em algum jogo para evitar o cruzar de olhares, ambos com receio que isso pudesse de alguma maneira afastar um do outro.

Os dias se passavam sem se darem conta, e mesmo o fato dela morar em outro estado não trazia embaraço nem inquietude aos passos. Parecia sim, que essa era uma maneira de saber que a distância era por demais pesada e que a separação se tornava cada vez menos tolerável. Para ela, as coisas ocorridas longe do menino, de sorriso fácil, perdiam significativamente o sentido, como se as paisagens e as emoções longe vividas não trouxessem alegria imediata ao coração.

Como eram apenas bons e novos amigos, flertes e namoros eram desenhos constantes na vida do menino. Ele era belo e, portanto, seus cabelos desgrenhados e sua fala, que continha um sotaque peculiar da região, eram atrativos a mais para a sua ascensão entre as garotas daquela cidade do sertão. Isso decididamente causou certo ciúme na menina. Afinal, as horas que podiam ser compartilhadas entre os dois, eram atiradas junto com bocas e desejos a uma outra pessoa, que nem era tão especial, e que na maioria das vezes era alguém minimamente atraente, ou seja, não existiam essas coisas todas especiais que são necessárias para um e outro ficarem juntos.

Para tanto, era necessário que as coisas fossem, de certa forma, antecipadas. A menina que sempre fora contida na vida cotidiana e abalada em seus sonhos, resolvera sem conjugar alguns verbos declarar sua falta de temor ao frio. Medo que desde os seus sete anos era constante: gélida sombra, álgida aparição, glacial fantasma! Todos os desassossegos atrelados a uma só imaginação.

Mas chegara o momento. Até a noite de terça-feira era quente, e a bebida servia de fundo para os versos impronunciáveis! Insistência para se ouvir o que não se sabe bem se desejava naquele instante ouvir. Pausa. Mais uma vez, seguidas perguntas que remetiam a uma mesma resposta. Mas como responder a um questionamento que vai descobrir a alma, e que há tantos anos está encoberta e secretamente guardada? Desejo de saber mais. Neste momento não dava mais para recuar e “ignorar tudo para não ter o desejo de saber mais”.

Passado instante, o menino diante dos lábios da menina descobre que o amor de certo morava aí. Seguindo o balançar da rede, enfim o mundo abre os olhos. Vontade de cheirar, tocar, beijar o que há muito não era acessível. Na confusão e na calmaria corpos e bocas se misturam até o clarão do dia. Felicidade: placa fixada ali!

Dias, noites, meses e anos unidos. Água de um rio que deságua mar... Vento que envolve e rebenta redemoinho... Amarelo que brinca com mil tons para aclarar sol... Chuva por trás dos montes que traz tempestade... Tudo misturado, confrontado e permutado para somar: Dois. Ternura que não se adjetiva. Remate: Solidão que não se substantiva.

Desencontro, arranque, partida e o fim. Ah, apenas saudade de olhar a flor do jardim agora protegida por muros altos.

Maria Karina
Jornalista e Escritora
Apaixonada por gatos
Euclides da Cunha - BA

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Palmas pra dar Ipobe


Improvisei uma paixão.
"Paixão, EU TE AMO!", disse.
Mesmo gostando só um pouquinho.
Pouco a pouco, delineei A imagem.
Deu em uma pintura do Renascimento.
Inventei a minha própria novela das oito.
Com as mãos estendidas no céu azul do semi-árido, bradei:
“Obrigada, Nossa Senhora dos Amores Inventados, pela graça alcançada!”
O erro.
Não é certo perfumar o inodoro, colorir o preto-e-branco.
E nessa brincadeira de criar verdades, tornei o fosco brilhante.
Acreditei no cintilante de uma invenção.
Eis que, de repente, não mais que de repente, fez-se de espiral o que era linear.
Uma dor muito forte virou desmaio.
A invenção fez-se verdade, o estável, o drama.
A paixão deu as costas, falou que iria embora e foi.
Na ficção, improviso uma vida.
Na realidade, amo e definho.
Sobrevivo, como a próxima vítima do meu próprio folhetim.

*Palmas para dar ibope é uma música de Ednardo, a cena é da novela A Favorita (duvido que alguém não saiba...) de João Emanuel Carneiro, a inspiração também veio da novela A Próxima Vítima (1995) de Sílvio de Abreu, Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral e, no texto, há uma citação do Soneto de Separação de Vinicius de Moraes.

sábado, 11 de abril de 2009

e até os erros do teu português ruim...

"que tanto você insite em me ensinar, hem jornalistinha de merda? que tanto você insiste em me ensinar se o pouco que você aprendeu da vida foi comigo, comigo!"
Raduan Nassar, Um copo de Cólera

Eram as minhas frases, as minhas palavras, as minhas pausas: era ele remetendo o meu sentimento para outra, mudando apenas o nome da assinatura.
R diz:
Que vergonha, hein, rapazinho?
V diz:
Acha que eu sou incapas?
R diz:
Não é que eu te ache incapaz de escrever algo, mas se tem uma coisa que tenho é boa memória. Imagine se eu tivesse patenteado as cartas que te enviei. Capaz de já estar rica... ha-ha-ha.
V diz:
desculpe, R

E com essas desculpas, a promessa do final de semana e a ligação nunca feita (que ainda espero!)

sábado, 4 de abril de 2009

Farrapo humano / Sra. das dores

Fim de tarde, depois do banho, a angústia inevitável. As perguntas existenciais, as desculpas, a vontade de sair correndo sem saber para onde.

Já correndo, no meio da floresta, e me perdendo em vielas de árvores. Com medo, medo, medo, medo, lacrimejando a paz que me foi roubada.

As coisas se movimentam.
A translação da terra em meu corpo.
A marca do abraço tatuada.
O cheiro do perfume que não passa.

?

sábado, 28 de março de 2009

"O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer"

Guardei o livro na estante, insegura, duvidosa e solitária, bebi o último gole de vinho e deitei no sofá olhando para o teto daquele jeito que sempre olho quando estou sofrendo. “Um troço qualquer morreu, num corte lento e profundo, entre você e eu”: a trecho piscava e insistia em não sair da minha mente. Insegura, incompreendida, eu e a parede descascada. Então, diante de tanto atormento, pensei em te ligar pela décima vez – só hoje. Uma lombra bateu. Torta e levada pelo teor alcoólico do vinho barato, vi a tua imagem perfeita em minha frente e como quem segue uma aparição sacra, comecei a entrar e sair dos cômodos da casa, te escoltando, onde quer que você fosse. “Espírito, saia daqui, me deixe viver”, clamava. “Agora é tarde demais, é tarde demais, tarde demais”, ouvia a resposta, como um assombro, em eco. Morta-viva-morta, nem eu sabia mais o que era vida, quem era o assombro. O meu corpo continuava inerte no sofá, olhando sempre para o mesmo ponto no teto, míope, depressiva e retraída de paixão...

A maldição do anel... Parte II

Não recebo mais anel de seu ninguém, entendeu?
A minha coleção de relacionamentos que não deu certo, com anel, desfaço e faço questão de jogar na fogueira.
Grata.

Último carnaval

Só hoje encontrei a senha do meu e-mail antigo. Eu já tinha feito o esboço dessa carta. Resolvi que seria assim, por papel, que mais uma vez iria te procurar. Desde que apaguei meu perfil no orkut e meu fotolog, nunca mais trocamos uma mensagem. Não tenho usado nenhum tipo de messenger e nunca mais abri meu skype. Você jamais me passou seu telefone e também nunca pediu o meu. Enfim, não havia como a gente se comunicar.

Não sei como contar que eu não morri. Não tenho idéia de onde surgiu essa história. Quando percebi, o enterro já estava marcado, túmulo encomendado e as coroas de flores chegando. Tão lindas e tão caras. Ganhei um obituário de uma página no primeiro caderno do jornal de domingo e a metade dos classificados eram mensagens lamentando a minha “precoce partida”. Meu velório foi concorrido e demorado. Por fim, minha família que nem é judia se trancou com setes dias seguidos dentro de casa em luto. Só saíram para a missa na catedral metropolitana com o cardeal arcebispo.

Fiquei confuso com a situação, mas não posso mentir: eu fiquei deslumbrado com tudo. Minhas melhores fotos no jornal, “tão jovem e bonito para morrer”, lamentou uma leitora da seção de cartas. Até no busto de bronze no jazigo, fiquei bem. Como eu poderia simplesmente dizer que era tudo um engano, que eu estava (estou) vivo, mesmo que gordo e com alguns anos a mais na face? Não dava. Tinham eternizado a minha imagem. A mesma que ficou para você naqueles três dias de carnaval que passamos juntos numa praia na divisa entre o Espírito Santo e a Bahia. Morto, era como se aqueles dias fossem intermináveis, em loop.

Não sei se agora você ainda lembra. Mas, eu nunca esqueci. Você foi meu grande e eterno amor de carnaval. Sazonal, mas intenso. Espero muito que um dia a gente volte a se corresponder e que você entenda tudo o que fiz, ou melhor, que deixei de fazer. Anseio que você entenda meu encantamento por essa morte falsa, porém onírica. E que também compreenda que tive receio de que, depois de terem feito esse luto por mim, não quisessem chorar mais uma vez quando, de fato, eu morresse. Você não tem idéia de como é triste um funeral vazio. É como se a gente não tivesse morrido.
Um beijo com saudade,
H.S
Vitória, 13 de Março de 2009.
"Leo Viso... Visionário que consegue captar a essência dos momentos mais intensos da vida nossa de cada dia! Belo texto"

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Eco, co, o ...

Assaltante de planos:
surrupiou o que era meu pra você e potencializou para outro alguém.
Pensa que eu não sei?
Tô CHAPADA.
Tô na Pratinha,
no Pai Inácio,
em Lençóis,
lá vou eu em Mucugê!
Entre os Óvnis do além,
Positive Vibrations e risos irônicos.

Pra você até tinha.
Tinha...

Ah,
Deixa que eu pago.
A conta do hotel-pardieiro hoje é minha:
faço questão!
E pode ficar com o troco.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Lágrimas de Crocodilo

Acreditei em teu choro, enxuguei as tuas lágrimas.
E agora choro, coitadinha de mim.
Te esperei na avenida, segurei o meu beijo.
Não segurei nenhuma mão e nem mijei no mar.
Mijei em teu instinto, cansei de te amar.
Jogo uma granada no passado e todas as gramas de rancor
em mim estão, quilômetros de mal-estar.
Uma avenida de palavras que não poderiam ter sido ouvidas,
usadas, suadas, expelidas.
Só sinto profundamente.
Melodia em fá menor.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Mardi Grass

"Ola. Tudo bem? Só passei para falar um oi...

E quando passar ou chegar perto do carnaval, eu sempre vou lembrar de você, como meu grande amor de carnaval. Uma história que vou falar para meus filhos e até para os meus netos, pois sempre que chegar perto de um carnaval, vou me lembrar de você como meu grande amor e SEMPRE vai ser...

Você sempre vai ser uma pessoa muito especial pra mim e isso é uma forma de você saber que eu não te esqueci.

Eu estava meio na duvida de te escrever e você não gostar, sei lá, mas eu peço desculpas se falei alguma coisa demais.

Te desejo toda felicidade do mundo. Um grande beijo...
M."

Terça-feira farta.
Seus olhos verdes cintilavam como faróis na barra.
Sorriso largo e o entorpecer de uma buzina.
Risos.
As canções que ficaram: pedaços de você.
Estraçalhados.
Não sou capaz de te amar.
Grata pela sinceridade, inocência e intensidade.
Mas sou só carnaval!

“Minha carne é de carnaval, meu coração é igual àqueles que têm uma seta e quatro letras de amor. Por isso onde quer que eu ande, em qualquer pedaço, eu faço um Campo Grande”
Swing de Campo Grande – Novos Baianos

sábado, 14 de fevereiro de 2009

outros carnavais...

(Paul Cézanne. Pierrot and Harlequin. 1888)

As Máscaras
(Menotti Del Picchia)

O teu beijo é tão doce, Arlequim...
O teu sonho é tão manso, Pierrô...

Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo...
e a Pierrô, minha alma!

Quando tenho Arlequim,
quero Pierrô tristonho,
pois um dá-me prazer,
o outro dá-me o sonho!

Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
Um me fala do céu...outro fala da terra!

Eu amo, porque amar é variar
e , em verdade, toda razão do amor
está na variedade...

Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrô fossem um ser somente.

Porque a história do amor
só pode se escrever assim:
Um sonho de Pierrô
E um beijo de Arlequim!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Meryl Streep, What are you doing in my dreams?


As horas passam e eu percebo.
Essa noite, Meryl, espero que você me explique o que faz em meus sonhos.
Se não quiser explicar, tudo bem...
Mas volte sempre!

"Os Sonhos de Helena
(Livro do Abraço, Eduardo Galeano)
Naquela noite, os sonhos faziam fila, querendo ser sonhados, mas Helena não podia sonhá-los todos, não dava. Um dos sonhos, desconhecido, se recomendava:

- Sonhe-me, vale a pena. Sonhe-me que vai gostar.

Faziam filas alguns sonhos novos, jamais sonhado, mas Helena reconhecia sonho bobo, que sempre voltava, esse chato, e outros sonhos cômicos ou sombrios que eram velhos conhecidos de suas noites voadoras."

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

“E tudo é proibido. Então, falamos.”

Super Mercado
Ulisses Tavares

O amor é um artigo caro
desejado por muitos
disponível para uns poucos
vendido no mercado dos acasos
onde seu preço
cem por cento
só pode ser pago com o troco.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Entrementes - Apenas algo trágico

Nada!!! Justifica. Se eu passar mais 3 segundos ouvindo pela 2ª vez “Ana Júlia” na rádio tropical, prometo que meto o chute na porta e estraçalho esse som em 2002 pedaços. Mas as coisas não se resolvem assim, pô!!! Porque assim sou eu: nenhum pouco frankfurtiana, mas tudo tem limite. Vá lá: Raquel, mais uma maluca nesse mundo doido que é de todos os egos, menos de Deus.
Estou preparada para parar (Engenheiros do Hawaii???) de dar soco em ponta de faca. Se viver fosse legal mesmo, a morte não teria sentido, é o que penso. E todos têm essa capacidade louca de enganar, ou melhor, deixa pra lá.

Minha mãe estava dormindo e gritou “Pai”. Depois tomou uma água que eu levei, mas não conseguiu cochilar pelo resto da noite. Na semana que vêm, pego o resultado do froid-jungniano-ultrapassado psicoteste. “Para a sua inconstância, terapia”: falou e disse.

Não se pode montar o quebra-cabeça, mesmo porque vou formar nova e trabalhar talvez. Em um século não tão antigo, eu tinha outras ambições. Materiais e sentimentais, devo ressaltar. Tudo foi pro fundo do poço mesmo.

Definitivamente, não tenho depressão. Meu avô tem. Um dia, ainda quando eu tinha outras ambições, escrevi uma carta pra ele. Hoje, vovô é bem magro e já foi internado duas vezes. O doutor deu um diagnóstico não tão favorável.

Convenhamos: viver é um pesadelo em tempo integral. Pra enganar a falta de chão, nós (os mais bobos e eu) continuamos sorrindo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Todos os dons


"Sou a febre que lhe queima, mas você não deixa"
Mal Necessário.
Esperança.
Pandora mandou lembranças e:
velhice, trabalho, doença, loucura, mentira e paixão.
Ignoro.
Também suspeito quando recebo um grande presente, mas abro.

sábado, 17 de janeiro de 2009

"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra"

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ausência

"Entre cores e rancores,
todos se salvaram"

Contra rejeição, um remédio sem igual:
Puta!
E esqueça qualquer tipo de incomodo ou humilhação.

Só a puta - safada - guarda o melhor sorriso pra você.
Aquele mesmo sorriso que você não permite que ela dê publicamente, pois sente ciúmes.

Doma seu fogo,
entre tapas,
se enlaça,
entre, ao lado, em cima, do seu corpo.

Pacientemente,
respira putaria,
e te ama.
E você, pelo resto da vida, com sua puta impregnada n'alma.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Muito prazer, eu sou você amanhã

AS HORAS (A AGONIA CRONÔMETRADA)
Leo Viso

Você se levanta e um mundo te espera, mas você só espera por um minuto. Sua manhã nublada torna-se cenário para sua ansiedade excessiva. Os óculos escuros escondem olheiras de uma noite não dormida, ácidos jorram em seu estomago para lembrar-lhe de sua má alimentação, a manteiga de cacau disfarça as rachaduras de uma boca não beijada.

Os ponteiros se perseguem e contam cada segundo de sua agonia matinal. Você receia que a mesma se torne vespertina e torce para que jamais se torne soturna. Cigarros, por que não os faz uso? Pelo menos daria um esfumaçado charme a seu tormento, que lhe faz tanto mal quanto a nicotina e o alcatrão.

Seu telefone não toca, seu e-mail permanece vazio, a cibernética não o ajuda. Seus dedos ganham vida própria e relatam a sua verdade. De sua janela vê as nuvens encobrindo o sol e o tempo cinza passa a ser seu estado de espírito, o estado da dúvida. Já que pode fazer ensolarar ou chover de repente.

Te obrigam a sair de seu claustro, as paredes de sua sala dão lugar a desproteção da rua. O vento corta sua face e te lembra que ele poderá se único a tocá-la hoje. Você vê duas crianças correndo na rua, uma despida e a outra desordenada e elas passam a ser a antropomorfização dos seus sentimentos: um coração nu e uma mente embaraçada.

A volta para casa é tão rápida quanto a saída. E a situação continua mesma como se fosse na permanência. Você já tem ciência de que pode não estar só nesse ritual, você já sabe o motivo de toda a agonia. Não é ansiedade por uma mensagem e sim o medo do teor dela. Afinal, você sabe que o relógio pode trazer a verdade indesejada.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Porque me lembra

Aceitarás o amor como eu o encaro?

Mário de Andrade

...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro

Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

sábado, 10 de janeiro de 2009

encenação

Em dia de lua cheia,
minguo.
E transbordo.
Quieta, penso, e assisto a parede branca.
Coloco cor onde não tem, te projeto no teto.
Em dia de lua cheia,
me transformo,
fico obcecada.
Vejo as suas fotos e, no seco, faço uma faxina geral.
O teto, o céu, a lua. Na frente, só neve.
Congelo a cena.