“Havia balões no ar”. Chovia e eram dias de festa, embora a dor da ausência estivesse parada ali. Pensava em sorrir, o peito sufocava... A falta acompanhava. Bebeu e se pintou de ninguém. Fantasiada, saiu. Estampa florida enfeitava o figurino de seu carnaval. Foi toda dança. E num compasso marcado: espalmou. O inefável foi pronunciado. Misto de agonias e aleluias. Sofria pela falta do que já foi e alegrava-se com o que poderia vir. Esperava.
E eram folguedos, bombas, rojões. Forró que de braços e abraços se comprimia. O cheiro a incitava, perspectiva para mais. Não podia, recuava. Traçado de bocas jogadas na madrugada. Ele as possuía, as levava para seu quarto sem portas, sem janelas, sem alarde. Por vezes anulava as horas de ontem, mas as escolhidas mantinham intacto o gosto do verde sal.
Colhia as flores, mas repentinamente o cheiro característico de algumas delas se desagregava. Portanto, um enjôo súbito o percorria. Cansaço do nada. Precariedade sem palavras. Voltava a si e de pronto recomeçava: reclamando-se, afastando-se. Queria - já não era negável – ela supunha. Sabiam os dois.
Vegetavam no olhar, escapavam nas premissas, parecia impossível. Por vezes chegavam-se ao desconforto, se despediam. Para passar os dias distantes, ela desconfiava do silêncio e ia remontando paisagens. E ele se aguava de mar, um cheiro de maresia lhe invadia. Levou subitamente o cheiro para ela. Ela o recebeu na estação. Um novo olhar, variada forma e um indefinível beijo a persuadiram num lento acúmulo de séculos. Rios levados ao mar.
Ele tinha fome de ser outro. Ela de mais uma ser. Distraídos, ficaram submersos. Já não podiam mais. Emudecidos, vestiram em silêncio.
Maria Karina
3 comentários:
Já é meu preferido!
Beijos, amiga...
Lindo!
Tradução de um festejo junino.
Beijo.
adorei!
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