O sol começa a ficar tão forte no ser-tão que por vezes penso que a alegria não vai durar. É primavera, e o amarelo dos girassóis que deveriam ser vibrantes tem receio, priva-se de angústia. Hoje, o grande vazio que há em mim será o meu eterno lugar de existir. Gostava de adivinhar o prazer, mas tudo que parte de mim gera incomodo em quem nem conheço, em que nunca troquei palavras, em quem nunca cintilou. Querem me violentar para que eu desesperadamente me torne vazia e necessitada. Mas, a exigência da vida faz com que o condenável seja lícito, que o artificial se compreenda no sacrifício de ter o essencial.
Não chove mais por aqui. Tudo esbarra em ternura e tristeza. É tempo de partir, de lavar as mãos na água que nunca é a mesma. Há uma necessidade plena de adeus. Largar os olhos que de tão meus correm risco de não mais enxergarem. Hesito. Ir para nunca mais. Fico ocupada. Vagueio. Desejo de uma intertroca tão fluida e constante como a de existir. Passei do tempo em que me prometia viver, deixei há muito de ser uma promessa, não há mais tempo de continuar pedindo, tenho a coragem de já ter [ou não ter]. Esperança é sinônimo de adiamento. E não há tempo. O tempo só é pleno quando é presente.
Levaram-me para viver o agora. Era distante de onde as buzinas tocam. Era perto do asfalto onde nada nasce. Mas adentrando, chegando perto da casinha de porteira, tinha milho, feijão, açude e pássaros. E eles cantavam uma sinfonia de quietude. Ali as horas não tinham dono. Eram minhas, eram suas, eram de quem lá quisesse estar. Naquele período eu queria. E talvez ainda o quisesse no agora. Mas alardearam, dividiram o infinito numa série de finitos, inventaram um nome, um nome sem palavra.
Causaram o desencontro, embora, ainda, nos encontremos na semelhança. Mas por semelhança nos repelimos, não entramos um no outro. Sinto falta do que deveria ser eu. Anoitece, amanhece, e só o descaminho segue me guiando.
Maria Karina
Foto: Karina Zambrana