Guardei o livro na estante, insegura, duvidosa e solitária, bebi o último gole de vinho e deitei no sofá olhando para o teto daquele jeito que sempre olho quando estou sofrendo. “Um troço qualquer morreu, num corte lento e profundo, entre você e eu”: a trecho piscava e insistia em não sair da minha mente. Insegura, incompreendida, eu e a parede descascada. Então, diante de tanto atormento, pensei em te ligar pela décima vez – só hoje. Uma lombra bateu. Torta e levada pelo teor alcoólico do vinho barato, vi a tua imagem perfeita em minha frente e como quem segue uma aparição sacra, comecei a entrar e sair dos cômodos da casa, te escoltando, onde quer que você fosse. “Espírito, saia daqui, me deixe viver”, clamava. “Agora é tarde demais, é tarde demais, tarde demais”, ouvia a resposta, como um assombro, em eco. Morta-viva-morta, nem eu sabia mais o que era vida, quem era o assombro. O meu corpo continuava inerte no sofá, olhando sempre para o mesmo ponto no teto, míope, depressiva e retraída de paixão...
2 comentários:
"retraída de paixão...". engraçada essa frase... porque pra mim paixão sempre foi ÃO, explosão, expansão, ÃO, ÃO. vc escreveu como ída, inha.
paixão retraída é bom?
paixão comedida... nem é paixão retraída. difícil responder. Bju!
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