sábado, 5 de junho de 2010

Brisa



Por mim passavas
– a água mais pura –
e eu sofri sede.

[Manoel de Barros]

Queria ter nascido árvore. Não rebentar de tristeza e nem parar quando o susto pede para correr. Confio poucos nos homens, sempre me pareceram invejosos e um tanto arrogantes. Gosto mesmo é de bicho, seja lá ele qual for. Mas vejo com espanto, que mesmo inundados de pureza, ainda assim, sofrem com dores e chagas que eles nem sabem de onde vêm nem por que vão. Só se encolhem e esperam que ela se vá ou que um humano “semi-bicho” [aquele que faz da dor alheia a sua dor] acolha-o e desvie a sua agonia. Penso na Brisa, no seu cheiro, nos seus olhos levemente tristes e oblíquos. Procuro uma resposta para os males e ela se fecha em uma gaveta sem chave. Mas quero crer no bem, na recuperação e na paz que virá num breve depois. E na concisão de um átomo, sem ninguém se aperceber, continuar a envolver ternamente dois seres que de tão diferentes se tornaram UM.

2 comentários:

Raquel Galvão disse...

"Falo como se alguém falasse por mim"...
Lindo, gata, lindo!
Simplicidade e melancolia que adoro e sinto.

Anônimo disse...

bicho é uma coisa muito legal.
parece que é um dedo na nossa ferida que é o paradoxo da racionalidade da nossa espécie.
loucura! me deixa confuso.
ficou uma delícia de texto!